Retrofit: para além das estruturas

Por: Felipe Figueirôa de Lima Câmara; Engenheiro Civil, Técnico em Logística e Técnico em Edificações; e Diogo Jason da Silva Carvalho; Técnico em Eletrotécnica, Graduando de Engenharia Elétrica.

As edificações, com as mais diversas características, passam por mudanças em diferentes aspectos ao longo do tempo, seja de conservação, caracterização, escolha de materiais, entre outros quesitos diversos. No entanto, o uso ao qual se destina a edificação costuma ser alterado com o passar dos anos por questões de destinação da ocupação ou demandas de reformas para atualizar o uso do ambiente. Paralelamente a esse tipo de ocorrência, há ainda mudanças sociais e culturais que interferem em como ocupamos os espaços construídos.

Eis que surge um termo que vem ganhando fama nos últimos anos quando o tema é mudança no uso de uma edificação, o Retrofit. A rigor, esse termo se refere a uma espécie de modernização das estruturas visando atender às novas demandas e características de ocupação futuras. O histórico já existente nesse ramo apresenta casos de completas transformações de ambientes como alguns, inicialmente pensados para a indústria, sendo transformados em unidades residenciais, por exemplo. Quando a palavra “Retrofit” é comentada, costumamos, muitas vezes, pensar numa laje que receberá mais carga por metro quadrado e que, por isso, poderá necessitar de reforços estruturais ou mesmo de alterações nas divisórias internas dos cômodos e, frequentemente, as últimas coisas que nos vem à mente são as instalações.

As instalações são a essência de uma ocupação bem-sucedida, no que se refere a atender por completo o novo uso a que se destina os ambientes que serão ocupados pelos usuários.

Assim como o nosso corpo, as instalações de uma residência, comércio ou indústria, por exemplo, demandam cuidados. Os processos de manutenção corretiva e preventiva costumam se apresentar como um fator muitas vezes delicado de se propor à alguns proprietários de imóveis quando se trata de empreendimentos com bastante tempo de uso, pelo fato de, em geral, se fazer necessário uma atualização completa dessas instalações.

Quando pensamos em instalações elétricas fica prático de se perceber como algumas mudanças no uso e ocupação das edificações podem impactar na qualidade e equalização de necessidades do usuário com a oferta de infraestrutura da edificação.

Tomando como base um imóvel construído no ano de 1983, podemos pontuar que, à época de sua construção, a população dormia mais cedo, consumindo menor quantidade de horas de iluminação elétrica. Sem falar que os principais eletrodomésticos dessa época eram as geladeiras e chuveiros elétricos, este segundo ainda pouco presente nas residências. De lá para cá, 40 anos depois, temos uma intensa informatização da população que se reflete dentro das residências e, consequentemente, na demanda por instalações mais robustas. Ar-condicionado, muitas vezes em todos os ambientes da casa, além de geladeiras, freezers, fogões, fornos e fritadeiras elétricas, bem como celulares, smartwatches, tablets, computadores etc. Um considerável aumento de equipamentos eletroeletrônicos que necessitam de uma instalação elétrica preparada para suportar tantos equipamentos, muitas vezes, conectados simultaneamente nas tomadas.

Para além dessa mudança de comportamento da população, faz-se necessário em um retrofit de instalações elétricas, levar em consideração o tempo de uso dessa instalação, podendo se deparar com cabeamento rígido e obsoleto, emendas oxidadas, eletrodutos se esfarelando pelo tempo, disjuntores com suas engrenagens enferrujadas, entre outras manifestações que vão para além da simples mudança no uso, ou manutenção inadequada e atingem o ponto da segurança dos usuários e da edificação em si. Estamos falando de uma instalação que perdeu sua eficiência em condução elétrica. Todos esses itens citados são os grandes responsáveis pela geração de atrito na passagem da corrente elétrica pelos cabos, gerando pontos aquecidos no cabeamento e conexões, elevando, desta forma, o potencial risco de incêndio nestas instalações.

Para evitar maiores transtornos se faz necessário uma intervenção de forma planejada e detalhista, analisando para além das falhas e, buscando prever, na etapa de projeto, quais as possíveis cargas que serão instaladas no imóvel.

Aqui, apresentamos ao leitor uma breve receita objetiva do que deve ser levado em consideração quando um Retrofit de instalações elétricas se apresentar no horizonte:

•         Estudar junto ao cliente o uso do imóvel, identificando os equipamentos que já estão sendo utilizados e quais serão no futuro.

•         Realizar estudo de carga.

•         Viabilizar, através de um projeto de instalações, o mapeamento dos circuitos da nova instalação elétrica.

•         Quantificar os custos de mão de obra e materiais que deverão ser investidos neste retrofit.

•         Apresentar o projeto executivo ao cliente, elencando as melhorias deste processo.

Independente de qual sistema ou instalação um Retrofit esteja tratando, seja elétrico, hidrossanitário, de combate a incêndio, de conectividade, gás ou qualquer outro, a chave para o sucesso do processo se concentra em uma única atividade que, se bem executada garante resultados positivos evitando retrabalhos e custos não planejados: compatibilização.

AUTORES

Felipe Figueirôa de Lima Câmara; Engenheiro Civil, Técnico em Logística e Técnico em Edificações. Atuação: Colaborador no Setor de Laudos da Tecomat Engenharia e instrutor do Instituto Engenheiro Joaquim Correia.

Diogo Jason da Silva Carvalho; Técnico em Eletrotécnica, Graduando de Engenharia Elétrica, Especialista em Instalação de Usinas Fotovoltaicas e em Manutenção e Instalações Elétricas em Baixa. Atuação: Diretor Técnico da Di Soluções – Projetos & Instalações Elétricas.