Conceito BIM e modelo 3D aplicados ao serviço de acompanhamento de reformas de fachada

Por: João Ribeiro, Engenheiro Civil e Gestor do setor de Laudos da Tecomat Engenharia e Alexandre de Azevêdo Demétrio Filho, Engenheiro Civil e colaborador do setor de Laudos da Tecomat Engenharia

Acompanhamento e fiscalização de obras de recuperação de fachadas

(otimização e estratégia)

  • Como funciona?
  • Quais pontos são analisados e considerados?
  • Conceito BIM e modelo 3D aplicados ao serviço de acompanhamento de reformas de fachada

Os grandes centros e capitais do Brasil estão repletos de edifícios de múltiplos andares que compõem seu cenário urbanístico, cujo crescimento teve significativo aumento nas últimas décadas. Na cidade do Recife, particularmente, existe uma cultura enraizada da utilização de revestimentos cerâmicos aderidos nas fachadas dos edifícios, seja nos prédios mais novos ou até mesmo naqueles mais “maduros”, com seus 30, 40 anos de idade.

 Os revestimentos das fachadas das nossas edificações, além da função estética que é bastante valorizada, possuem a tarefa de proteger a estrutura e conferir os requisitos de conforto e habitabilidade aos seus usuários, como por exemplo, sob os aspectos térmicos, acústicos e de estanqueidade da água.

O sistema de revestimento predominantemente presente nos edifícios da cidade do Recife é composto por camadas aderidas, justapostas, de argamassa, com acabamento em cerâmica, demandando um complexo árduo trabalho de equipe na sua produção.

A NBR 5674:2012, que traz os requisitos para o sistema de gestão da manutenção das edificações, introduz uma definição interessante sobre nossos edifícios:

“As edificações são suporte físico para a realização direta ou indireta de todas as atividades produtivas e possuem, portanto, um valor social fundamental. Todavia, as edificações apresentam uma característica que as diferencia dos outros produtos: Elas são construídas para atender a seus usuários durante muitos anos, e ao longo desse tempo de serviço devem apresentar condições adequadas ao uso a que se destinam, resistindo aos agentes ambientais e de uso que alteram as suas propriedades técnicas iniciais”.

Para que a edificação como um todo e as partes que a compõem, como no caso dos revestimentos das fachadas, sejam longevas de forma eficiente e continuem atendendo aos seus usuários, são necessárias e fundamentais as ações, atividades, de manutenção.

Estas manutenções, inicialmente, são preventivas e rotineiras, mas podem chegar ao ponto de, em casos mais críticos, onde o cuidado com os revestimentos das fachadas foi negligenciado por vários anos, necessitar de manutenção corretiva mais intensa, que se trata de uma recuperação mais robusta do sistema de revestimento ou até mesmo uma completa remodelagem, partindo do zero.

     Com relação às recuperações de fachada, sobretudo naqueles casos mais vultuosos e complexos, por vezes, há um abismo de conhecimento técnico e informações operacionais entre a construtora que está executando a manutenção e o “dono” da edificação, que é o condomínio. É justamente aí que entra o profissional de Engenharia Civil, preenchendo essa lacuna para realizar o acompanhamento e fiscalização dessa atividade, sendo a terceira parte envolvida no processo de terapia.

Sob essa ótica, este texto busca trazer informações de como funciona essa atividade de fiscalização/acompanhamento de recuperação de revestimentos de fachadas dos nossos edifícios, abordando os principais pontos que são analisados e quais aspectos são considerados.

De modo geral, o principal objetivo do profissional de engenharia que realiza esse acompanhamento é servir de elo entre a construtora e o condomínio. Onde, nesse caso, ele será os olhos do condomínio e deverá ter o conhecimento técnico necessário para garantir que a construtora execute as atividades dentro dos preceitos das normas brasileiras da ABNT e das boas práticas da engenharia.

A fiscalização também deve ficar atenta para garantir que a empresa executora realize as atividades como foram firmadas em contrato e utilize os materiais de qualidade e desempenho adequado para cada situação. Além disso, a fiscalização servirá de filtro para levar as informações de forma clara e objetiva ao condomínio sobre o andamento da obra e as principais observações sobre o tema.

Em uma análise macro dessa atividade de acompanhamento de recuperação de fachada, é possível dividi-la em três etapas: 1ª a etapa pré-obra e planejamento inicial; 2ª etapa durante o transcorrer da obra; 3ª etapa de finalização e controle de qualidade final. A seguir foram colocadas as principais observações de cada uma dessas etapas.

1ª etapa

Nessa etapa é importante realizar uma reunião inicial envolvendo as três partes: Construtora escolhida para execução, condomínio e fiscalização. Nesta reunião a fiscalização deverá ficar atenta para os seguintes temas:

  • Análise do escopo do serviço a ser realizado;
  • Análise do Cronograma proposto pela executora;
  • Definição de comissão de obras do condomínio (definição de grupo que ficará acompanhando mais de perto as atividades);
  • Nessa primeira etapa a fiscalização deve verificar algumas informações importantes e cobrá-las ao condomínio e/ ou construtora. São algumas delas:
    • Contrato assinado entre construtora e condomínio;
    • ART assinada pelo responsável técnico da empresa;
    • Matrícula no CNO (cadastro nacional de obras) da obra;
  • Comunicação Prévia de Obras em sistema informatizado da Subsecretaria de Inspeção do Trabalho – SIT, antes do início das atividades, de acordo com a legislação vigente;
  • Elaboração de PGR- Programa de gerenciamento de riscos, conforme NR1 e NR18;
  • Documentação dos funcionários que atuarão na obra (Carteira de trabalho, identidade, fichas de treinamento, EPI, ordem de serviço, ASO);
  • Certificado de treinamento da NR35 dos funcionários que irão trabalhar na obra;
  • Projeto de instalação das balanças, com ART de engenheiro mecânico;
  • Placa de obra;
  • Vistoria inicial das áreas comuns e cobertura da edificação (com elaboração de relatório);

É interessante que ainda nessa etapa inicial de mobilização da empresa, pré-início do serviço propriamente dito, a fiscalização solicite que a empresa executora realize painéis-teste, em lugar escolhido na fachada. Esses testes serviram para simular todas as etapas que serão executadas na obra de recuperação para que se possa ser analisado e estudado possíveis falhas e dificuldades do processo. Dessa maneira, é possível realizar correções e mudanças antes do início do serviço de fato.

2ª etapa

A segunda etapa ocorre durante a execução do serviço, onde esse acompanhamento é feito por visitas semanais, pré-definidas entre condomínio e fiscalização. Nestas visitas a fiscalização deve apoiar seu olhar em 4 grandes pilares: Os materiais; as ferramentas e equipamentos utilizados; o procedimento executivo; e as condições de proteções, limpeza e organização do canteiro de obras.

É sempre importante verificar o local e forma de acondicionamento dos materiais e suas validades. Muitas vezes os lotes de argamassas ficam estocados por um período mais longo e podem acabar expirando seu prazo de validade, que normalmente é de 8 meses da data de fabricação, conforme informação no próprio saco.

Importante checar as ferramentas que estão sendo utilizadas, observando se as condições de conservação estão dentro dos limites aceitáveis e se estão sendo utilizadas de forma correta.

De pouco adianta ter o melhor material e as ferramentas adequadas, se há uma execução deficiente. É ponto crucial e de extremo valor que o procedimento executivo esteja adequado, de acordo com as recomendações normativas e as boas práticas da engenharia, sob pena de prejudicar todo o trabalho executado.

No caso da aplicação de revestimento cerâmico, uma checagem de controle pode ser feita de maneira bem simples. Basta solicitar que o executor retire as placas recém aplicadas para que se observe o seu tardoz (a parte de trás), que deve estar bem preenchida com argamassa colante.

O último aspecto a ser observado são as condições do ambiente de trabalho em que o serviço está sendo executado. Deve-se observar as proteções e telas de segurança; avisos e isolamento de áreas; limpeza do canteiro e outras condições de segurança que caso estejam inadequadas, devem ser alertadas pela fiscalização.

Além dos aspectos técnicos citados, o profissional que realiza essa atividade de fiscalização precisa ter o que se chama de soft skills para lidar com situações de conflito que normalmente acontecem dentro de uma atividade complexa realizada em um organismo vivo que é a edificação habitada. Pois nesses casos, diferente de uma obra nova, a atividade é realizada ao mesmo tempo que dezenas de pessoas continuam habitando naquela edificação.

Isso torna um desafio ainda maior tanto para o executor, quanto para o fiscalizador que precisa mediar conflitos e trazer informações apaziguadoras para as dezenas de “clientes” que formam o condomínio.

É possível citar alguns atributos importantes necessários ao profissional: Saber ouvir as pessoas; capacidade de expressar ideias; inteligência emocional; pensamento crítico; argumentação etc.

Por fim, ainda parte dessa 2ª etapa, que ocorre durante a execução dos serviços, a fiscalização deverá enviar ao condomínio relatórios periódicos, que podem ser quinzenais ou mensais, com todas as informações que o condomínio precisa saber sobre as etapas de execução e o andamento de sua obra, de forma clara e objetiva.

A Tecomat, como sempre mostrou em sua história, busca sempre inovar e trazer o que há de melhor para os seus clientes. Ela está desenvolvendo uma forma diferente de realizar esse serviço de acompanhamento. Podendo dizer, de certa forma, inovadora, se comparado com o que ele é feito no mercado da construção civil local de Recife.

A inovação parte da utilização do conceito BIM para agregar valor a esta atividade, com a elaboração de modelos 3D da edificação, que facilitará a coleta de informações, realizações de medições de quantitativos de forma precisa e automática, bem como representação fiel do andamento da obra, de forma clara e intuitiva, ao condomínio.

O termo BIM (Building Information Model), que em uma tradução direta significa modelo de informação da construção, traz a construção de edifícios para a era da tecnologia pujante em que vivemos. Nele, a fase de design (projeto), gerenciamento e execução são feitos de forma colaborativa entre todos os envolvidos: projetista de arquitetura, projetista estrutural, projetista de instalações prediais, fornecedores e construtora.

O BIM representa um processo holístico de criação e gerenciamento de informações para um recurso construído. Com base em um modelo inteligente e habilitado por uma plataforma na nuvem, a BIM integra dados estruturados e multidisciplinares para produzir uma representação digital de uma construção em todo seu ciclo de vida, desde o planejamento e o projeto até a construção e as operações.

O mundo BIM traz consigo uma série de ferramentas (softwares) capazes de desenvolver modelos 3D da edificação como um todo e todos os seus sistemas e subsistemas. Dessa forma, o projeto, neste novo conceito, torna-se muito mais próximo da obra real (virtualização dos elementos), facilitando a observação de possíveis inconformidades (erros de projeto, sobreposições etc.).

No Brasil, o uso do conceito BIM, notadamente nas obras localizadas no eixo Rio de Janeiro-São Paulo, já vem sendo usado há pelo menos uma década. Apesar de ainda ter um longo caminho de adaptação e melhorias, os projetistas e profissionais de coordenação técnica de obras, nos últimos anos, estão cada vez mais se aprimorando e aderindo a esta “nova” forma de conduzir as construções, cujo caminho não tem mais volta.

Quando requisitos como alta precisão, velocidade, minimização de desperdícios e retrabalhos estão em jogo, o jeito BIM de trabalho se torna fundamental. Sua utilização se mostra evidente é primordial nos processos de industrialização da construção, como são os casos das construções off-site.

Como pode-se perceber, a aplicabilidade do conceito BIM e sua modelagem 3D são utilizadas, em sua maioria, nas construções novas. No nosso caso em questão, que são as obras de manutenção e retrofit de fachadas de edifícios, a utilização desse conceito ou pelo menos parte dele, inicialmente, é algo que está na vanguarda do setor.

Atuando como membro fiscalizador das obras de reformas de fachadas de edifícios, como explicado no início do artigo, a implementação dessa “nova” ferramenta se inicia pela modelagem 3D da edificação.

A partir daí, a ideia é que o modelo 3D reflita a realidade em “tempo real” do andamento da obra. Nos exemplos genéricos a seguir, observa-se que é possível locar a posição das balanças em atividade, bem como representar por cores diferentes e até mesmo cerâmicas idênticas às utilizadas na obra, os diversos serviços que podem estar sendo executados, como por exemplo, demolição da cerâmica antiga; regularização da camada de emboço; assentamento de nova cerâmica; execução de juntas de movimentação etc.

Dessa forma, há uma maior precisão nos levantamentos de quantitativos, possibilidade de realização de medições e conferência de produção com elaboração de tabelas de forma automática pelos softwares, bem como facilidade de observação de interferências e ajuda na visão global do estado da obra com a perspectiva em 3D do prédio.

Neste outro exemplo, é possível ver a representação do andamento do serviço de demolição de cerâmica no modelo 3D, conforme executado na obra.

A ferramenta permite ainda que sejam gerados e armazenados dados sobre todo o histórico da obra, de forma estratificada por fachada, balança, mês, ano ou outra variável que se queira controlar.

Dentro do âmbito da reforma da fachada, onde estão envolvidos o condomínio, a construtora e a fiscalizadora (Tecomat), a utilização desse método de trabalho ainda está restrita à Tecomat, que visa trazer mais precisão, rapidez e facilidade de visualização do andamento da obra para seu cliente. Contudo, o potencial do sistema BIM é enorme e em breve poderemos ver os 3 atores desse processo atuando de forma colaborativa e tornando essa atividade tão complexa que é uma reforma de fachada, em um processo mais harmônico, com menos erros e menos desperdícios de tempo e recursos.

3ª etapa

Por fim, a última etapa que faz parte do acompanhamento é a checagem da qualidade da execução, que além de atividades de controle que podem ser feitas durante o percurso, no caso dos revestimentos cerâmicos, sua qualidade só poderá ser chancelada por meio do ensaio de tração que medirá a resistência de aderência do revestimento.

O acompanhamento de obras de recuperação de revestimentos de fachadas das edificações é uma atividade que exige conhecimento técnico sobre os materiais de construção, técnicas construtivas, normas técnicas, mas também uma capacidade de mediar e gerenciar conflitos, onde o profissional deve buscar ser uma fonte de clareza, conhecimento, informação e confiança para o condomínio e construtora.

FONTE:

Conteúdo desenvolvido por João Ribeiro, Engenheiro Civil e Gestor do setor de Laudos da Tecomat Engenharia; e Alexandre de Azevêdo Demétrio Filho, Engenheiro Civil e colaborador do setor de Laudos da Tecomat Engenharia.