
Por: Pedro Góis, Mestre em Tecnologia das Construções e Gestor do Setor de Desempenho de Edificações da Tecomat, e João Ribeiro, Especialista em Patologias de Estruturas e Gestor do Setor de Laudos da Tecomat.
A construção civil enfrenta um desafio crescente: a escassez de mão de obra qualificada. Essa realidade reflete não apenas a falta de profissionais com formação técnica adequada, mas também o êxodo de trabalhadores em busca de melhores condições em outras áreas. Esse déficit impacta diretamente o setor, resultando em atrasos, aumento de custos e comprometimento na qualidade das obras. Com o envelhecimento da força de trabalho e a ausência de iniciativas consistentes para capacitar novas gerações, cria-se um cenário preocupante para o futuro da construção civil.
É nesse contexto que a industrialização surge como uma solução estratégica. Por exemplo, ao utilizar componentes pré-fabricados, como estruturas e vedações, conseguimos maior precisão e qualidade, reduzindo o tempo de execução e os riscos associados à execução tradicional. A construção industrializada minimiza a dependência de mão de obra altamente qualificada no canteiro, ao transformar pedreiros e auxiliares em montadores, abandonando metodologias artesanais sempre que possível.
Durante a atuação da TECOMAT em mercados com níveis de maturidade diferentes, acreditamos que a industrialização vai além da produção de materiais. Para a industrialização acontecer, é preciso investir em uma adaptação cultural e técnica das empresas que não começa na obra, é preciso pensar em industrialização desde a fase de concepção e projeto. Veja como:
● PREVISIBILIDADE
Ao utilizar softwares avançados para simular e analisar o desempenho de um empreendimento ainda na fase de projeto, é possível prever situações de não atendimento e realizar ajustes.
Por exemplo, uma simulação pode indicar se aumenta o afastamento de alguns blocos, melhora o desempenho luminoso ou evita ruídos que exigiriam esquadrias mais caras. Realizar ajustes após a aprovação do projeto na prefeitura ou com materiais comprados pode gerar grandes dores de cabeça — e no bolso.
Essas simulações podem avaliar o desempenho acústico, térmico e lumínico das unidades habitacionais, ou até mesmo analisar o comportamento térmico dos blocos de fundação, especialmente em situações de risco de manifestações patológicas, como a Reação Álcali-Agregada (RAA), devido às altas temperaturas na concretagem.
● PRECISÃO
Embora o BIM produza modelos virtuais impressionantes, seu maior valor está nas informações que carrega. Com modelos 3D detalhados, é possível extrair quantitativos precisos, essenciais para um orçamento eficaz.
Investir em BIM compensa já as primeiras incompatibilidades eliminadas, evitando desperdícios e liberando recursos que poderiam melhorar as margens, o ROI ou serem reinvestidos em controle de qualidade e projetos executivos.
O Tecomat apoia clientes de diferentes níveis de maturidade. Enquanto algumas equipes estão preparadas para desenvolver os modelos, outras reuniões de suporte técnico para criar e compatibilizar projetos. O BIM não é mais o futuro — é uma necessidade do presente.
● CONTROLE
Com quase 20 anos de acreditação pelo INMETRO, a Tecomat monitora rigorosamente a qualidade de materiais e processos, utilizando métodos tecnológicos para garantir que cada componente atenda aos mais altos padrões de resistência e durabilidade.
Em uma obra, isso vai além dos ensaios de resistência do concreto. São precisos profissionais capacitados para moldagem correta de amostras, rastreabilidade e avaliação de propriedades como abatimento e trabalhabilidade.
Além do controle de materiais, o acompanhamento da execução permite identificar atrasos, compreender suas causas e ajustar processos para evitar comprometimentos nos prazos finais. Nesse contexto, controle e informação são indispensáveis para decisões estratégicas que garantam o sucesso do empreendimento.
● PRODUÇÃO
Para transformar uma obra em algo semelhante a uma linha de montagem, é essencial substituir metodologias artesanais por sistemas industrializados, como o uso de drywall no lugar da alvenaria tradicional. Esse processo reduz o desperdício de materiais, aumenta a produtividade do canteiro e melhora as condições de trabalho.
Embora existam desafios culturais e de capacitação, investir nesse novo modelo fideliza os colaboradores e os prepara para crescer junto à empresa. Um exemplo é o projeto GRUA, do Instituto Eng. Joaquim Correia, que já formou mais de 500 profissionais, como montadores de drywall, especialistas em parede de concreto e almoxarifes.
Outro destaque é o programa Engenharia 360, voltado para engenheiros recém-formados. Ele é uma teoria e prática, com conteúdos fundamentais como BIM, desempenho, liderança e outros temas pouco envolvidos nas universidades, formando profissionais para os desafios reais do mercado.
A construção industrializada representa o futuro — e o presente — da construção civil. Ela não oferece apenas soluções para a crise de mão de obra, mas também uma oportunidade de elevar a qualidade, a eficiência e a sustentabilidade do setor. Apostar nela é garantir que a construção avance com mais soluções e soluções integradas.
FONTE
CBIC- Câmara Brasileira da Indústria da Construção: “A IA pode ajudar a resolver o problema da mão de obra na construção:
https://cbic.org.br/a-ia-pode-ajudar-a-resolver-o-problema-da-mao-de-obra-na-construcao/
Exame Bússola: “É preciso industrializar a construção civil no Brasil” https://exame.com/bussola/e-preciso-industrializar-a-construcao-civil-no-brasil/
AECweb: “Como a industrialização pode ser introduzida nos canteiros de obras
“https://www.aecweb.com.br/revista/materias/como-a-industrializacao-pode-ser-introduzida-nos-canteiros-de-obras/2109