Como o BIM reduz custos nas fases operação e manutenção de um empreendimento?

Por: Ricardo Maciel Castro Hüttl, gestor de projetos e construção virtual na Tecomat Engenharia e Mestre em Engenharia Civil da Universidade Federal de Pernambuco; e Ranielle Lopes dos Santos especialista BIM no setor de projetos e construção virtual na Tecomat Engenharia e mestranda em Engenharia Civil na Universidade de Pernambuco.

A etapa de operação e manutenção no ciclo de vida de um empreendimento é a mais extensa e envolve custos elevados. Com os avanços da Indústria de Arquitetura, Engenharia e Construção (AEC), as edificações passaram a ser mais complexas, aumentando a necessidade de gerenciar uma grande quantidade de dados. Com isso, a gestão de facilities é aplicada, atuando como um conjunto de estratégias para gerenciar uma edificação durante a fase de pós-obra.

Segundo Devetakovic e Radojevic (2017) o custo da fase de operação e manutenção de um empreendimento pode chegar a mais de 80% do total durante o seu ciclo de vida. Isso evidencia a importância do aprimoramento da gestão de informação, que se torna um fator vital para o sucesso da etapa de operação do empreendimento, garantindo sua eficiência. A norma de desempenho NBR 15575 aumentou o interesse no assunto ao definir as responsabilidades de construtores, incorporadores, projetistas e usuários durante todo o ciclo de vida do empreendimento.

Nesse contexto, o Building Information Modeling (BIM) permite uma gestão mais eficiente das informações, evitando a perda de dados e facilitando o acesso às informações necessárias para as manutenções. Becerik-Gerber et al. (2012), afirma que as informações digitais de ativos devem ser levantadas durante a fase de projeto e construção, sendo elas: equipamentos e sistemas; fornecedores e fabricantes; localização dos elementos e seus atributos; sistemas de classificação dos ativos; e documentos, como manuais, garantias e laudos de ensaios.

Sendo assim, a gestão eficiente das manutenções é altamente dependente de informações disponíveis e confiáveis sobre os componentes dos edifícios, que precisam estar facilmente acessíveis. Alinhado ao BIM, as informações geométricas e não geométricas podem ser integradas ao elemento, propiciando uma forma de armazenamento de dados e reduzindo o tempo e o trabalho gasto para compilar informações necessárias para a gestão da edificação, além de reduzir o número de decisões ineficientes (Ergen, Akinci, Sacks, 2007).

Um estudo de caso demonstrou que houve uma redução de 98% do tempo e recursos para produzir e gerenciar uma base da dados para facilities através do BIM (Dempsey, 2009). Também há evidências de como o BIM pode ser eficiente para armazenamento e recuperação de dados, além de redução de tempo e recurso gasto ao procurar informações sobre equipamentos e materiais durante as manutenções (Eastman et al., 2011). Essas aplicações demonstram melhorias substanciais em relação aos tradicionais, com benefícios a longo prazo comprovados.

A produção de um programa de uso e manutenção eficaz aumenta o desempenho da edificação e diminui a quantidade de reparos e reduz os custos gerais. Estima-se que mais de 80% do tempo de um gestor de instalações seja gasto procurando informações relevantes que, por vezes, são desconsideradas pelos projetistas nas etapas anteriores (BecerikGerber et al., 2012).  A Institution of Civil Engineers afirma que a provisão de uma fonte de dados confiável baseada em BIM pode eliminar esses problemas.

O BIM gera economia nessa fase justamente por ser uma união de processos, pessoas e tecnologia, então ao combinar essas três vertentes desde o início com a concepção até o pós-obra, é possível que a informação seja entregue ao time de gerenciamento de facilities ao final da obra de forma completa e precisa. A obtenção desse banco de dados, viabiliza planejar atividades de manutenção de forma proativa e alocar adequadamente a equipe operacional, reduz reparos de emergência por possuir previsibilidade e a possibilita avaliar diferentes cenários para tomadas de decisão.

Dessa forma, fica evidente a importância do BIM alinhado a processos bem estruturados na etapa de uso, operação e manutenção de uma edificação. Isso não só permite a visualização em 3D dos elementos, proporcionando clareza, mas também aumenta a produtividade e gera economia na realização das atividades necessárias.

FONTE
HÜTTL, Ricardo Maciel Castro. Diretrizes para implementação do BIM na gestão de facilities com ênfase na coordenação de projeto. 2023. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2023.

 DEVETAKOVIC, Mirjana; RADOJEVIC, Milan. Facility Management: A Paradigm for Expanding the Scope of Architectural Practice. International Conference on Sustainable Design, Engineering and Construction: International Journal of Architectural Research: ArchNet-IJAR, v. 1, n. 3, 2017, p. 127-139.

BECERIK-GERBER et al. Application Areas and Data Requirements for BIM-Enabled Facilities Management. Journal of Construction Engineering and Management © ASCE / American Society of Civil Engineers, 2012.

ERGEN, Esin; AKINCI, Burco; SACKS, Rafael. Life-cycle data management of engineered-to-order components using radio frequency identification. Advanced Engineering Informatics, v. 21, n. 4, 2007, p. 356-366.

DEMPSEY, J. A Coast Guard Pilot to Make Better Facility Decisions, Journal of Building Information Modeling, Vol. Fall 26, 2009, p26. Disponível em: https://www.wbdg.org/pdfs/jbim_fall09.pdf, Acesso em: 10 jul. 2022.

EASTMAN, C.; TEICHOLZ, P.; SACKS, R.; LISTON, K. BIM Handbook: a guide to Building Information Modeling for owners, managers, designers, engineers, and contractors. Hoboken, Nova Jérsei, EUA: John Wiley &Amp; Sons, 2. ed., 2011.